sexta-feira, 6 de novembro de 2009

1ª Entrevista do ACS - Pedro José, um exemplo a seguir



Desde que idade praticas andebol?

Desde os meus 10/11 anos.

Tens algum ritual antes dos jogos?

Sem levar muito a sério a questão do cafezinho habitual antes de cada jogo, costumo não comer nas 2 horas antecedentes ao jogo (sinto-me cheio em campo se o fizer), procuro ser o último a sair do balneário (“capitão é o último a abandonar o navio”), na entrada em campo entro sempre com o pé direito e benzo-me, não é que seja muito religioso mas sinto-me mais ligado aos que se me partiram e penso que me protegerão durante o jogo.

Consideras que a prática do desporto é importante na tua vida? Achas que melhora a tua qualidade de vida diária? Em que medida?

Sim claro, penso que a prática de qualquer desporto é importantíssima na vida de qualquer pessoa, quer pelo simples facto de nos sentirmos bem fisicamente no final de cada “sessão desportiva”, quer pelo facto de nos moralizarmos pessoalmente, ao conseguir exercer qualquer actividade de esforço, com o nosso corpo.
Vejo, neste caso, a minha situação quando comecei a jogar andebol. Quando tinha 10 anos era obeso e limitado de movimentos, no entanto após a minha entrada para o andebol desenvolvi a minha fisionomia e mentalidade para que não me ressentisse no final de cada treino/jogo.
Com o passar do tempo reduzi o peso, cresci, provavelmente mais do que sem o andebol devido à movimentação necessária, e, desde aí, me sinto cada vez mais saudável.
Existe ainda o factor social, que em desportos colectivos prevalece quase acima da questão física. Todas as pessoas que conheci ao longo de todos estes anos, ainda permanecem no meu círculo de amigos e essa expansão social só sucedeu devido à minha entrada para o andebol.

O que é que te influenciou, ou quem, para iniciares na modalidade?

Para quem não sabe, uma parte da minha família tem um passado desportivo, por várias modalidades. Tive o meu pai que foi jogador de futebol, a minha mulher que praticou ginástica, 3 primos e o meu cunhado que jogaram andebol, e outros familiares e parentes que praticaram e ainda praticam mini maratonas e caminhadas .
Mas foi pela parte dos meus primos que jogavam andebol, que comecei a frequentar o pavilhão para ver os seus jogos. Na altura ainda no Vasco da Gama, o andebol enchia os pavilhões e todo aquele ambiente já era na altura extremamente fascinante para mim. Quando vi que a minha vontade de estar dentro do campo era maior do que a de estar na bancada, decidi que tinha de participar neste grande desporto.

Porque é que optaste pelo número 8?

Sempre gostei mais dos nºs pares do que dos ímpares, e no início identificava-me com o nº 8 pela sua forma, que de certo modo era idêntica à minha . Mas nem sempre assim foi. Nos infantis cheguei a jogar com o nº 4, porque havia gente mais velha que jogava com o 8, e uma vez nos iniciados, joguei até com o nº 15, devido à hierarquia dos seleccionados para esse jogo.
Posteriormente, procurei uma forma lógica para tentar jogar com o nº do dia dos meus anos nas costas, mas como não havia o nº 24, tive de contornar essa situação e então idealizei a seguinte fórmula 2 x 4 = 8, e a partir daí tornou-se esse o meu “amuleto”. Para além de ter esse nº na camisola, tenho-o presente em vestuário que uso no dia-a-dia.
Ah, existe ainda o facto de ser o dia de anos da minha irmã, o que ajuda à estima.

Como caracterizarias a tua postura em campo?

Tal como já afirmei noutras declarações, penso que sou um jogador que procura dar tudo o que tem em prol da equipa. Não procuro e nunca procurei, qualquer tipo de protagonismo, em qualquer forma do jogo (atacante ou defensiva), e tento apoiar ao máximo toda a equipa, quer nos momentos bons quer nos maus.
Se calhar e também devido à condição do meu ombro, consigo neste momento dar uma contribuição mais proveitosa à equipa em termos defensivos, e sempre me identifiquei mais com esse factor, o qual tenho tentado aperfeiçoar cada vez mais. Com isto tudo não excluo a parte ofensiva. É claro que toda a gente gosta de encarar o guarda-redes contrário e o desfeitear com um golaço daqueles que enche a equipa de motivação, ou levar três atacantes sempre a me carregarem de tareia a conseguir soltar a bola para um companheiro de equipa finalizar e dar a vitória à nossa equipa.
Essa é a minha paixão a este desporto, e a que tento transmitir dentro de campo.


Desde que começou a jogar ocupou sempre a mesma posição?


Desde que jogo andebol e devido à minha altura (um bocado acima da média para a idade), sempre ocupei posições na zona da meia distância, quer na esquerda, direita ou a central. Por vezes e ao longo dos anos, pontualmente ocupei e ocupo a posição de pivot, resultante também da minha estrutura, que é mais favorável para ganhar espaço no meio dos defesas.

Tem consciência de que é uma das maiores referências do ACS para os mais jovens. De que forma encara essa enorme responsabilidade?


Por acaso ainda não sei com certeza qual o verdadeiro impacto dos jogadores seniores na juventude andebolista sineense, muito menos da minha pessoa. Faço o que posso para ter uma vida normal, para que se me quiserem seguir as pegadas não seja mau exemplo, ou muito mau exemplo. No entanto é como disse, com a mentalidade dos jovens de hoje em dia, quer dos andebolistas quer de toda esta geração, não é fácil eles se identificarem com “ícones” mais velhos, visto terem uma personalidade muito própria e criarem um espírito singular que segue somente o que eles determinam.
Mas temos de ir dando uma ajuda e procurar transmitir o bom caminho, como anteriormente nos fizeram a nós.

Como consideras o comportamento da tua equipa nesta época?

Nós sabíamos que o campeonato deste ano iria ser diferente de tudo o que tínhamos tido até agora. Mais equipas, mais valor, mais competitividade, mais dureza, e com isto tudo tínhamos de nos preparar com mais rigor e com uma mentalidade combativa que superasse a que tivemos no ano passado.
Não tivemos o início de época que pretendíamos, mas com o jogo de equipa que demonstrámos ter com o Loures para a Taça de Portugal, penso que estamos no bom caminho para conseguir o nosso objectivo, que é a manutenção na actual divisão.
Mas para que isso aconteça tem de haver uma entrega total de todos os jogadores, que têm de dar tudo por tudo em todos os jogos e nunca relaxar, nem que o jogo pareça ganho.

O que achas que o andebol português necessita para que possa ter mais adeptos?

Acho acima de tudo que os jogos da Selecção Nacional de Andebol (seniores) deveriam ser realizados em pavilhões distribuídos por todo o país, e não só pelo Norte. Se formos contabilizar os jogos que a selecção fez nos últimos tempos, quase todos foram realizados para cima de Leiria. Ora uma vez que no Alentejo a prática do andebol não é tão grande como na zona Norte e na zona de Lisboa, penso que os jogos da selecção deveriam passar por essas zonas.
De resto até acho que o andebol em Portugal é uma das modalidades a nível nacional que mais praticantes tem, extra futebol.

Actualmente, somos confrontados com diversas notícias onde atletas utilizam substâncias ilícitas para alcançar melhores resultados. Qual é a tua opinião em relação ao doping?

Na minha opinião, penso que o desporto é puro por si só, se for praticado puramente. Até pelo facto de que se assim não o for, coloca-se a saúde em risco.
Veja-se por exemplo a situação dos jogadores de futebol que somente por tomarem medicação para inibir as dores musculares, sofrem problemas cardíacos entre outros, e que por vezes resultam e m colapsos cardíacos com morte súbita.
Sou a favor do desporto puro. Se querem resultados trabalhem no duro para isso.

Pensas que o factor psicológico interfere com o jogador? De que forma? No teu caso interfere? Como?

Tenho a certeza que sim. Tanto na vertente positiva, em que nos sentimos com moral e julgamos ter a força e a capacidade de fazer tudo e tudo sai bem, como na vertente negativa, em que por qualquer motivo (familiar, social, profissional) nos sentimos em baixo e que andamos perdidos dentro do campo, correndo tudo ao contrário, e nem que tivéssemos 2 horas em campo sairia qualquer coisa de jeito.
Acontece-me a mim, talvez como acontece a todos os jogadores e praticantes de desporto, que basta que o dia de trabalho corra mal, ou surge alguma situação mais melindrosa dentro da nossa mente para que as coisas corram mal, além do facto da cabeça estar repartida entre o jogo e o(s) outro(s) factor(es), mesmo querendo concentrar-me para dar 100% em campo.




O atleta tem cada vez mais um papel importante nos comportamentos dos jovens, assim como na chamada de atenção para questões sociais e intervenção na comunidade. Pela tua experiência, consideras que os atletas têm consciência deste papel e da sua importância?

Tal como respondi à outra questão, penso que nos tempos de hoje não é fácil contagiar os jovens de hoje em dia, no entanto tem de existir da parte dos atletas uma intervenção sempre positiva para os cativar ao máximo, tentar levá-los a bom porto, e ajudá-los na sua vida social.
Vejo por isso com bom agrado o facto de o ACS ser o único clube que conta com atletas que residem na Santa Casa, e que os ajuda, tal como a todos os outros, a se formarem como jogadores e acima de tudo como pessoas.
É aí que temos de dar a nossa contribuição. Aí e em todos os jovens que nos abordam e tentam acompanhar os passos que nós já demos para chegar a uma vida correcta, com integração no meio social e na comunidade. É pena que mais modalidades não seguem os nossos caminhos ou pontos de vista.
Pelo que tenho acompanhado dos nossos escalões de formação, e o contacto que tenho tido com os atletas, considero que o trabalho realizado quer pelo clube, quer pelos colegas de equipa, pela comparência de atletas mais velhos nos treinos e em intervenções sociais, tudo isso tem tido um grande significado para os jovens, e eles sentem-se enriquecidos e motivados para seguir no bom caminho, desportivo e social.


Selecção: De andebol, França e Croácia, de tudo o resto a Portuguesa (mas sem brasileiros)
Uma música: My Way (Frank Sinatra)
Um filme: Braveheart
Um livro: O Pai Natal Não Existe  (Nilton)
Um lugar: Praia da Navalheira (Vieirinha)
Um sonho: Um Porsche descapotável amarelo , agora a sério, estabilidade em todos os aspectos da minha vida e da minha mulher
Um atleta de eleição: Lance Armstrong e o nosso Rui Costa (era uma máquina)
Uma necessidade: Encarar a vida sempre com um aspecto positivo, senão o que é que andamos cá a fazer…
Um Hobby: Conviver alegremente (com a minha mulher, família e amigos), o resto como tenho pouco tempo para fazer as fazer, não considero hobbies
O que mais aprecia numa pessoa: Honestidade e a boa disposição
Um sonho que se torne realidade: Casar em breve

2 comentários:

  1. esqueces te de mencionar que gostas de adormecer a ouvir os metalicade nas viagenes para os jogos :p es um grande capitao. abraço tata

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  2. Não há muitos assim...
    Mas existem muitos que querem ser assim.
    Continua e acredita...

    Um abraço
    Pedro Cova

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